O vale da morte opinativo

Bernard De Luna30 de dezembro de 2019

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Um grande desafio para quem é PM é lidar com a opinião de outras pessoas. De que adianta reunir dezenas de dados, passar dias pesquisando e criando suas argumentações, se qualquer outra pessoa manda um “eu acho” e ganha seu espaço na discussão?

Eu sempre critiquei esse tipo de “permissão", e já vi acontecendo em cima de decisões de engenheiros, de marketing, de design e nos últimos anos, voltado para produto.

Lembro uma vez, há uns 5/6 anos, um profissional de marketing discordando de um dado que levei, criando uma tese de trabalho, dizendo que achava que deveria ser de outro jeito, sem apresentar nenhum dado, ou hipótese para ser testada.

Uma filosofia de trabalho que eu sempre levo para os meus times é se preparar para uma reunião. Se você não tiver nada concreto para contrapor, você não pode achar. No máximo, se isso ferir alguma intuição sua, você pode dizer “Olha, eu não tenho nada agora para refutar essa informação, mas eu acredito que não seja o melhor caminho. Eu posso rodar uma pesquisa para pensar em um melhor caminho, ou vocês poderiam considerar o caminho B no estudo?”

Infelizmente ninguém faz isso, o que torna a conversa sem qualidade, e principalmente, longe de uma cultura data-driven.

Uma forma simples de evitar que suas discussões se tornem opinativas e vire um culto de achismos, é você enviar a pauta para todos os participantes, deixando claro o que é comunicação, o que é discussão, e o que é planejamento de ações.

Veja bem, não é que eu, ou o PM, seja o dono da razão, ou não possa receber crítica, ou sugestões no processo. Mas, devemos respeitar as pesquisas, caminhos oferecidos e o trabalho de um profissional da área.

Hoje mesmo eu tive uma reunião de quase 1 hora com duas pessoas de um produto que estamos criando, e foi colocado que cada um do time estava pensando em produto diferente, sugerindo coisas diferentes.

Eu pontuei que o problema era ter dado liberdade para eles acharem o que é o produto. Pois já havia sido perguntado para cada um num formulário o que era o produto, com isso, criamos uma única voz de visão, missão, valores, e Golden Circle (why, how e what).

A partir de reuniões (temos toda semana), pontuamos o que estamos construindo e temos um release bem construído sobre o que é o produto.

Ou seja, argumentei que não era que eles não sabiam o que era o produto, e sim que eles estavam querendo que o produto fosse outra coisa. Essa liberdade de opiniões é uma faca de dois gumes. É muito positivo o time ter opinião e participação, mas existem momentos para isso, e o final de criação de um produto, perto do pre-launch, definitivamente não é o melhor momento.

Principalmente uma mudança sem dados. Se fizermos isso, voltamos para a cultura opinativa e fraca de quem fala mais alto, mais contundente, ou melhor (famosa retórica clássica).

Uma das missões mais difíceis de uma pessoa de produto, principalmente em altos cargos, é saber quando envolver outras pessoas, e quando dizer não.

Uma coisa que eu faço é sempre que houver uma crítica ou uma posição contrária o status-quo ou que estou trabalhando, é ficar calado e ouvir tudo, transformando em itens em post-its, caderno ou notes. Quando nasce o silêncio, ou chega na minha vez, eu começo a pontuar todos os itens, avaliando o que vale discutir, o que vale incluir e o que não é aplicável, seja por falta de dados, esforço ou falta de contexto.

Nem sempre fui assim, já fui muito ansioso em reuniões, falando o tempo todo, atropelando quem vinha com outra ideia, sem realmente processar o que o outro falava.

Hoje em dia, consigo manter minha inteligência emocional, esperar meu tempo e lugar de fala, me manter aberto para novos assuntos, mas ser preciso e coerente com o momento da empresa/produto, e sabendo da minha responsabilidade em ter que dizer não para algumas coisas.

Em chat é pior, o que parece fácil por ser em texto, é ainda mais difícil. Portanto, o que eu faço é responder e clarear a primeira argumentação. Quando ela vira um grande debate e começam a brotar muitas informações improdutivas (culto do achismo), eu paro de responder e alimentar isso, pois seria como colocar lenha na fogueira.

Se eu perceber que o chat fugiu muito do tema e está virando ações, sem ter passado por produto, eu preparo um texto de início, meio e fim, e mando no chat, de forma que todos entendam que essa última informação não está aberta para discussões.

É uma forma mais contundente, muitas pessoas não gostam, mas novamente…. Ser uma pessoa de produto de excelência é saber dizer NÃO mais do que dizer SIM.

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