Falando sobre sentimentos e o nosso trabalho
Você sabia que mesmo correndo risco de vida, apenas 9% dos pacientes cardíacos mudam seu estilo de vida após uma cirurgia de revascularização traumática?
As pessoas realmente não gostam de mudanças, isso explica porque segundo pesquisa da Mount Eliza Business School, mais de 70% das iniciativas de mudança em uma empresa, falham devido à resistência das pessoas, não importando se vieram de análises, planejamento bem feito ou dados coletados.
Como pessoas de produto, temos uma responsabilidade por entregar valor acima de tudo. Estar na frente ou reagir da forma mais rápida e mais inteligente a qualquer movimento do mercado.
Mas, e se as coisas dão errado? Quem nos diz que está tudo bem? Quem nos embala como bebês e diz "tudo bem, nós vamos superar isso"?
Mas e se as coisas dão certo?
Antes de entrar no assunto de quando as coisas dão errado, gostaria de perguntar sobre o ponto alto. E quando elas dão certo?
Você é uma peça, com diversas outras peças, que trabalham para que o maquinário funcione. No final da ponta desse maquinário, saem notas, e quem as colhe são seus shareholders, ou se preferir, acionistas.
Esse é o capitalismo, certo? Eu estou tranquilo quanto a isso, e você?
Mas trabalhar só pelo dinheiro não gera propósito, não gera fogo e entusiasmo de entregar mais que o básico. Não gera colaboração.
Por isso, adicionamos um tempero extra a essa máquina, uma história, um motivo que seja lúdico, que toque o usuário ou o mundo em questão.
Afinal, por que você se motivaria a gerenciar o produto da Amazon, sabendo que Jeff Bezos ganha a média salarial de seus funcionários em apenas 10 segundos?
Como diz um amigo que trabalha com vendas, a maior dificuldade é motivar um vendedor, pois melhor que tenha sido o seu recorde de vendas no mês em questão, ele volta para para a estaca zero no primeiro dia do próximo mês, com uma meta talvez ainda maior.
Você como PM precisa entender o "long run" (a grande corrida), para ter o seu objetivo de longo prazo bem definido, pois é ele que vai te ajudar a não ficar extremamente cansado(a) no meio de seus OKRs e estratégias semestrais.
Adicionando algo super importante ao parágrafo acima, você ainda precisa ter um plano em paralelo, o seu plano de carreira. Aquele crescimento que quanto a empresa está alinhada é maravilhoso, mas quando não está, você precisa tirar o pino do vagão e correr o seu próprio caminho.
Mas e se as coisas dão errado?
Como dizia o poeta "Aí foi que o barraco desabou" (música do Jorge Aragão, literalmente conhecido como O Poeta do Samba, com 44 anos de carreira).
Lidar com nossa incapacidade de influenciar um resultado é uma das piores sensações que existem. O processo de isolar as variáveis para saber se nós erramos e onde erramos é uma das coisas mais dolorosas e enviesadas que existem, pois os dados nos levam até um certo ponto, mas não faz todo o trabalho por nós.
Mais do que sucesso x fracasso, bem x mal, força x império e smurfs x gargamel, estamos falando sobre percepções, como nos sentimos e se somos otimistas ou pessimistas sobre o nosso sucesso.
De acordo com a Neurocientista Tali Sharot, Tendemos a ser Otimistas quanto ao que temos controle, e pessimistas com o que envolve outros líderes e tomadores de decisão.
Em outras palavras, o grau de autonomia que você tem dentro da empresa está diretamente ligado ao quanto otimista você estará quanto ao sucesso do seu produto.
Como Sharot apresenta, uma pesquisa apontou que apenas 33% dos pequenos negócios dão certo, ainda assim 80% de seus fundadores acreditam que serão eles que terão esse sucesso, o que é chamado de Viés Otimista (Optimism Bias).
Claro que nós como pessoas de produto, precisamos de um pouco de otimismo, para nos provocarmos motivações e ambições quanto ao sucesso da empresa que estamos trabalhando. Por outro lado, precisamos compreender e analisar os riscos desse otimismo em cada decisão.
Alguns de vocês agora conseguem entender porque muitas vezes seus diretores pedem coisas sem dados, porque estão bastante otimistas que vai dar certo, sem realmente considerar os riscos dessa decisão.
Como lidamos com mudanças
Segundo Sue Langley, quando uma mudança está acontecendo ao nosso redor - em nossos relacionamentos, sociedade e locais de trabalho - podemos nos sentir ameaçados. Uma maneira de entender isso é olhando para o sistema de recompensa-ameaça do nosso cérebro. A motivação por trás de grande parte do nosso comportamento é impulsionada pelo desejo de minimizar a ameaça e maximizar a recompensa.
Ainda segundo ela, quando nos sentimos ameaçados, devido a uma proposta de fusão ou reestruturação na organização ou a uma apresentação que temos de fazer a um grande público, tendemos a evitar o que parece ameaçador, em vez de abraçá-lo. Sentimo-nos inseguros, focamos no negativo e nos desligamos. Nosso córtex pré-frontal também tem menos reservas de energia (oxigênio e glicose), então temos menos probabilidade de tomar boas decisões, assumir novas ideias e apreciar o quadro geral.
A melhor forma de você lidar com mudanças e estar sempre exercitando a sua capacidade de se adaptar e analisar com menos viés os cenários apresentados, é continuar aquecendo a sua capacidade de aprendizado. Por isso, Dr. Michael Merzenich, professor da University of California, defende que mais do que ser ativo, você precisar estar sempre aprendendo coisas novas, do contrário, a aptidão do cérebro geralmente começa a declinar por volta dos 30 anos para os homens, um pouco mais tarde para as mulheres.
Uma das formas de levar isso para a empresa que você atua é colocando em prática a "fifth-day strategy", que consiste em 1 dia na semana a pessoa trabalhar em um outro setor. Isso gera um novo aprendizado, novos desafios, sem sacrificar a construção e os objetivos já existentes.
Conclusão
Você entrar em uma reunião otimista, sair com um não e que as coisas não vão dar mais certo. Entregar um projeto e se sentir radiante, e depois ter uma reunião de feedbacks de sua gestora com muitas sinalizações que te deixam com medo de ser demitido.
Essa montanha-russa é o dia-a-dia de uma pessoa de produto. No fim das contas, você não pode puxar muito para o seu pessimismo, nem para o seu super otimismo.
Como mostra essa imagem criada pelo especialista em produto Tom Comerford, a realidade é amplificada pelo nosso viés.
Por isso, como PMs, sempre analisem o cenário e percebam o quanto vocês podem estar longe da realidade em suas avaliações e sentimentos.
E, caso ainda não estejam, em posições de liderança e gestão. Sejam a voz da calmaria e da motivação de seus times. Saibam que as pessoas estão no jogo para entregar valor e você precisa ajudá-las a dormirem bem, se manterem saudáveis e motivadas para no dia seguinte entregar ainda mais resultado.
Boa sorte :)