Analisando a modinha do ClubHouse pelo viés de produto

Bernard De Luna8 de fevereiro de 2021

Se você mora nesse planeta, com certeza ouviu bastante nessas últimas duas semanas sobre o queridinho do momento, o aplicativo Club House. O desafio aqui é tentar entender o histórico dele, sua proposta, assim como análise do uso.

Clubhouse foi lançado em Abril de 2020. Só para pontuar o timing do aplicativo, o lockdown no mundo (por conta da pandemia) começou em Março de 2020. Ou seja, 1 mês após todos estarem sem sair com amigos, eventos cancelados, entre outras mudanças bastante agressivas. Sua ousadia em unir pessoas de todo o mundo em cima de temas, através de salas que só é permitido áudio, o aplicativo em um mês de anúncio recebeu 12 MILHÕES de dólares de investimento da firma de um dos (talvez o maior) maiores investidores do mundo, Andreeseen Horowitz. Detalhe, isso tudo sem ter um simples website.

Em diferentes momentos, o que fez o aplicativo receber picos de acessos foram a adoção de grandes influenciadores, seja da música como Mc Hammer, TV como Oprah, Kevin Hart ou Jared Leto, além de empreendedores como Elon Musk e Mark Zuckerberg. A cada artista que promove um evento dentro do aplicativo, milhares de pessoas ficam desejando convites para fazer parte da rede.

Entendo onde o produto se encaixa

Primeira tarefa de análise, é tentar entender o que é o CH. Claramente é uma rede social, pois junta pessoas para se relacionarem. Depois, ele trabalha em cima de uma das mídias mais promissoras dos últimos anos, o áudio. Pense comigo, você grava vídeos no Instagram, tiktok e youtube, se você quiser interagir com seus usuários por vídeo você faz uma live nessas ferramentas. Agora, se você decidir apostar em um Podcast, caso queira interagir com seus usuários por áudio, você teria que? Pois é, provavelmente você teria que ir para vídeo, ou utilizar whatsapp ou Telegram para uma troca real-time.

O CH vem para preencher esse gap, permitir que você, celebridades e marcas possam criar suas próprias salas, gerando mais relacionamento e troca com seguidores.

Benefícios comparado ao Zoom Para pensarmos onde o CH se encaixa, basta dizer que o que muitas pessoas acabaram fazendo no Zoom em 2020, seja batendo papo com amigos, família, atores de filmes se encontrando, personalidades, etc., Agora você tem a possibilidade de fazer isso sem precisar de uma câmera, sem ficar segurando o celular na altura do rosto para as pessoas te verem, sem fritar o celular por um aplicativo pesado e dificilmente funciona bem em segundo plano.

Você pode entrar no CH e ficar ouvindo uma sala, com o aplicativo minimizado, ouvindo outras coisas no instagram, tiktok, ouvindo sua música, com o celular no bolso enquanto corre, sem nenhum problema. Se você ainda tem um fone bluetooth, você pode fazer o mesmo que eu fiz na minha primeira participação, ficar interagindo com centenas de pessoas numa sala, enquanto faz quebra-cabeças na sala com a sua família.

Viés da confirmação em cima do CH

Toda vez que vemos algo que não conhecemos, buscamos encaixar em algo familiar. Algumas pessoas da geração X dizem que o ClubHouse é o novo Mirc com áudio. Geração y dirá que é um twitter com áudio, enquanto a geração z poderá comparar com podcast em tempo real.

A verdade é que ele pode ser isso tudo, e se vai dar certo e entrar na história, só o tempo dirá. Por isso, selecionei alguns pontos positivos e negativos que eu listei sobre o ClubHouse.

Pontos Negativos sobre o ClubHouse

  • Moderação pobre, podendo ser facilmente usada para espalhar o ódio, unir pessoas com propósitos duvidosos, influenciar em eleições, ou até para especular ações na bolsa. E um usuário nem mesmo pode gravar ou reproduzir o que foi dito dentro da ferramenta fora dela, pois segundo a regra do CH: "Você não pode transcrever, gravar ou reproduzir e / ou compartilhar informações obtidas no Clubhouse sem permissão prévia."
  • Trabalha com gatilhos psicológicos muito questionáveis nos dias de hoje. O mais comentado é o FOMO (fear of missing out), ou seja, as pessoas se sentem doentes de não estarem 100% do seu tempo no aplicativo e perderem algum artista ou sala com um conteúdo absurdo que nunca acontecerá novamente. Isso sem dúvida é potencializado pelo aplicativo ser lançado e até o momento só ser disponível para iOS, e ter sido divulgado por muitos influenciadores de diferentes áreas, como por exemplo, Celso Portiolli entrar a noite em um canal sobre Marketing Digital.
  • Com o seu crescimento, há uma grande chance que pessoas comuns sejam "escondidas" pelas salas de artistas, especialistas e influenciadores, onde o algoritmo do aplicativo será realmente testado em como manter uma lista de salas relevante e inclusiva.

Pontos Positivos sobre o ClubHouse

  • O aplicativo é realmente intuitivo, o que você clica acontece. Ou você entra numa sala, ou você cria uma sala. Dentro da sala, ou você ouve, ou você levanta a mão para falar, ou você fala. A pressão por recursos novos podem comprometer a experiência e reduzir bastante a sua adoção (como o Medium, por exemplo).
  • O aplicativo é uma aula de Product Growth. A começar pela estratégia de ser "invitation only", ou seja, só entra se você for convidado de alguém. Todo usuário novo ganha um número bastante limitado de convites, o que deixa o "passe" ser cada vez mais valorizado e desejado. Basicamente, mesmas estratégias usadas em Gmail, Dribble e Hotjar. É possível encontrar convites para o CH à venda por mais de R$ 100,00. Um ponto interessante é o segundo modelo de entrada (esse eu confesso que achei inovador), onde você entra e sincroniza com seus contatos, e se ele identificar que alguém da sua lista já é membro, essa pessoa é notificada e tem o poder de deixar você entrar sem gastar o seu convite. Outro ponto super relevante da estratégia do CH é ele atuar bem forte em cima do "Network Effect", ou seja, efeito em rede onde o produto fica cada vez melhor de acordo com o aumento de usuários ativos.
  • Só funciona no iOS. Não é por conta do celular, e sim porque seguiram a cartilha de um produto que está ainda na fase de "Innovation". Não tem porque abrir o aplicativo para todo mundo, fazer versões para todos os tipos, pois um MVP precisa ser testado APENAS com early adopters. Então, você aprende mais rápido, gera valor para todos os usuários, corrige os problemas rapidamente, gera mais FOMO na audiência, e apenas quando você perceber que o aplicativo já está pronto para o próximo grupo de controle, você libera para usuários de outro sistema operacional.

Conclusão e opiniões pessoais

Eu vejo o áudio como uma mídia extremamente poderosa e em crescimento (tendência), mas vejo o ClubSocial como uma modinha, onde imagino que em algum momento eles vão sub-nichar ou sucumbir. É claro que eu posso estar errado e pagar pela boca, se isso acontecer, guarde esse email para você usar contra mim e minhas previsões :)

A ferramenta da interface e do produto realmente é fascinante e viciante. Hoje moderei uma sala por mais de 1 hora falando sobre produtos digitais, e me conectei com pessoas que até então não conhecia. Então, é uma ótima oportunidade para quem quer se conectar com outros especialistas, aumentando suas redes sociais, construir uma autoridade, ser visto e lembrado, muito parecido com os Operadores na época de Mirc.

Se você tem a oportunidade de ter um iOS e entrar no aplicativo, aproveite para analisá-lo semana a semana, não como um usuário que fica refém de um novo app, e sim como um profissional da área de produtos e inovação.

Mas, se você não tem iOS ou um convite para entrar, relaxa, tudo ao seu tempo. Você viveu literalmente a sua vida toda sem esse aplicativo, e não vai mudar nada ficar mais um tempo. Aproveite que muitas pessoas vão acabar concentrando todo o seu tempo no CH e vão abaixar a guarda nas outras redes, então é um ótimo momento para você crescer sua audiência e autoridade por lá.

Ahh, e o mais importante, relaxa porque o ClubHouse é só modinha.

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